Qual seria a razão da tristeza que o rei sentia?
Conta-se que, há muitos anos, um jovem rei chamado Samião tomou-se muito triste e amargurado. Já não se interessava pelas festas do palácio e mal punha na boca a comida que lhe preparavam.
O homem andava abatido e desgostoso da vida. Ora, como pode o soberano de um grande e poderoso país levar seu povo a grandes conquistas se a própria alma está abatida?
Era mesmo muito estranha aquela situação. O reino que herdara era um dos mais ricos do Oriente; seu palácio, uma das maravilhas do mundo antigo. Seu povo o amava e o servia com a mesma fidelidade que dedicara a seu pai. Os rebanhos eram incontáveis. As chuvas vinham na hora certa e os campos produziam mais e mais. Qual seria a razão da tristeza que o rei sentia?
Pelo fato de o rei já não se alimentar como antes e não mostrar nenhum interesse pela comida que lhe traziam, mensageiros foram enviados a reinos distantes, para buscar os melhores manjares, a fim de trazer de volta o ânimo para sua alma. Mas nem assim o rei se alegrou.
No reino havia um velho sábio, que conhecia a Palavra de Deus e nela encontrava remédio para todos os males. Era o ministro mais antigo, respeitado e admirado por todos, e chamava–se Vernizeu. O velho havia servido com fidelidade o pai do jovem rei e prometido a ele que tudo faria para que seu jovem filho o sucedesse com coragem e justiça.
Assim ele veio à presença do rei. "Majestade", disse o sábio, continuando: "Por muitos anos servi a vosso pai e sei de onde ele tirava a força para construir o reino que viestes a herdar. Tu também hás de recuperar as forças e reinar por muitos anos quando provares do mel da pedra."
"Nunca ouvi falar de tal coisa", respondeu o rei. "Mas confio em ti e estou pronto a prová-lo agora mesmo."
"O jovem rei há de prová-lo. Mas é preciso que siga com rigor minhas instruções. Amanhã, antes de o sol nascer, tome o caminho do bosque, onde estarei a lhe esperar junto à cabeceira. É importante que o rei vá só e não revele o segredo a ninguém."
Na manhã seguinte, conforme o velho havia dito, o jovem partiu a cavalo em direção ao bosque. No caminho, caiu nas mãos de salteadores que lhe vendaram os olhos e o amarraram. Eles o lançaram no fundo de uma carroça e partiram para uma terra distante.
Dias depois, faminto e cansado, o rei foi abandonado à própria sorte. Os ladrões levaram tudo que ele tinha. Apenas trapos de saco cobriam o corpo dele. Olhou para um lado e para o outro, não sabendo onde estava. Poucas vezes deixara o palácio e nunca em sua vida estivera sozinho. Assim, ele começou a andar em busca do socorro. Se aproxima a noite: céu escuro, torrentes de chuva, vento gelado – longa noite de espera pelo sol.
Quando amanheceu, avistou ao longe um povoado. Reuniu as forças e se apressou, pensando que ali era seu reino. O local era uma vila de lavradores. Eles viviam da plantação de algodão.
A única ajuda que lhe ofereceram foi o serviço no algodoal, que estava para ser colhido. Trabalhando ali, faria jus ao pão de que necessitava.
O algodão macio crescia envolvido por espinhos, logo, as mãos do rei estavam arranhadas e feridas. Quando enfim pôde comer o pão seco, esse lhe parecia a melhor refeição que tivera na vida. O rei tinha que trabalhar pelo sustento e pela roupa. Os dias eram árduos e a luta pela sobrevivência intensa.
Os dias de calor intenso, as noites frias de chuva, o dia de trabalho que começava de madrugada e se estendia até o escurecer, foram trazendo pujança e coragem para a sua alma. A vida sem amigos o fez depender de si próprio. Passado muito tempo, o rei entendeu que se quisesse voltar à sua terra, teria de fazê-lo por conta própria. Obstinadamente caminhava e a cada passo mais forças tinha para chegar.
Era um homem completamente mudado. Seus pés descalços eram marcados pelas estradas e as mãos pelos espinhos. Sua barba e cabelo eram longos. Nem de longe parecia o jovem rei que havia sumido anos atrás. Ao se aproximar do palácio foi detido pelos guardas, que ao ouvirem a sua estória o levaram aos ministros.
Reunidos na sala real, eles passaram a investigar o caso. "Como poderemos saber se és mesmo o rei desaparecido", perguntaram eles.
"O ministro mais antigo de meu pai, Vernizeu, o sábio, há de lhes confirmar a história que contei e do encontro no bosque ao qual jamais pude comparecer", respondeu ele.
"Vernizeu é morto", disseram os ministros. "No entanto, antes de morrer, nos revelou o segredo da força de um rei. Se queres reinar sobre nós e se és quem dizes ser, certamente conheces o segredo."
"Sim, conheço!" Exclamou o rei. ''Nos dias da minha tristeza, nem os mais finos manjares que meus servos trouxeram de outros reinos serviram para me devolver as forças. Agora sei que o alimento que precisava estava no segredo do mel da pedra. Não há mais doce no mundo e que tenha melhor sabor.
Faz-nos fortes e corajosos. Cada pedra no caminho, cada luta, cada adversidade, tem na verdade um mel escondido, que será dado àquele que lutar e vencer o obstáculo. Assim fui colocado diante das pedras para que delas tirasse o mel. Um rei sem desafios é um rei fraco e triste, que não serve para governar seu povo."
Dessa forma, os ministros comprovaram que se tratava do rei Samião e com uma grande festa lhe restituíram a coroa. O rei passou a lutar pelo seu reino e o fez ainda mais forte e poderoso.
Diz a Palavra de Deus que cada pedra encontrada no caminho possui um mel. Sem lutas não há vitórias. Os prazeres do mundo não podem se comparar ao maravilhoso sabor da vitória, do mel da pedra.
UNIVERSAL NA FUNDAÇÃO CASA
Filhos das internas da Fundação Casa.
Por Andrea Dip andrea.dip@folhauniversal.com.br